O que escrever em uma redação sobre feminicídio

Postado em 3 de dez de 2021
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Entre os assuntos em relevância na sociedade atualmente, a violência contra a mulher é um dos que continua em discussão, principalmente pela quantidade de casos existentes.

Sendo um assunto tão relevante, é importante saber como escrever uma redação sobre feminicídio para o Enem, caso seja esse o tema escolhido para as provas futuras.

Vale lembrar que um assunto com bastante relação já foi tema do Enem em 2015: “A persistência da violência contra a mulher”. Assim, é possível que o exame explore outro aspecto em torno da temática, como o feminicídio, por exemplo.

Para fazer uma redação sobre feminicídio é preciso entender bem o conceito, conhecer a realidade brasileira e estar por dentro das medidas que já existem, como a Lei do Feminicídio.

Veja, a seguir, essas e outras informações, além de boas práticas para criar uma estrutura nota 1000 para sua redação dissertativa do Enem!

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O conceito de feminicídio

A palavra “feminicídio” refere-se ao homicídio de pessoas do gênero feminino. Ou seja, é o nome dado ao crime de homicídio cometido contra mulheres e que sua motivação tenha relação com o gênero.

Assim, nem todo homicídio contra mulheres é considerado um feminicídio, mas sim aqueles que têm como motivo o fato de a vítima ser mulher.

Por ter essa motivação de gênero, o feminicídio está muito relacionado com a violência doméstica e aos relacionamentos abusivos.

Isso porque a maioria dos feminicídios envolvem o relacionamento entre um homem e uma mulher e estão relacionados a ciúmes, desconfiança ou qualquer outro motivo relacionado a isso.

O feminicídio também está atrelado à violência física, psicológica e moral. Ou seja, o criminoso, além de atentar contra a vida da mulher, também tenta desequilibrar sua vida de outra maneira, antes de cometer o crime.

Entender o conceito de feminicídio é muito importante para o candidato que vai fazer a prova do Enem, principalmente para evitar fugir do tema ou tangenciá-lo.

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O feminicídio no Brasil

Apresentar dados em uma redação sobre feminicídio mostra que o candidato tem uma preocupação com os temas da sociedade e que se mantém atualizado sobre eles. Além disso, usar citações coringas também torna o texto mais rico.

O feminicídio e a violência doméstica contam com diferentes dados que podem ser utilizados.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, um estudo feito com base nos dados das secretarias estaduais de segurança pública, mostra que, no Brasil, 1 mulher é vítima de feminicídio a cada 7 horas. Assim, são 3 homicídios por dia cometidos pelo fato da vítima ser uma mulher.

Segundo a pesquisa, de 2020 para 2021 o número de vítimas caiu 1,7%, sendo que em 2020 houveram 1350 vítimas e, no ano seguinte, 1340. Assim, apesar da ligeira queda, na prática, o número se mantém alto.

Outro ponto importante é que o número de tentativas de feminicídio aumentou 3,8% de 2020 para 2021. Ou seja, apesar de o número de vítimas ter diminuído um pouco, as tentativas de cometer esse crime continuam.

Uma informação que pode ser utilizada relacionando o feminicídio à violência doméstica é que o Brasil sofre de uma subnotificação dos dados. Isso porque se estima que apenas 10% dos casos de violência são, de fato, registrados e denunciados.

Vale lembrar também que muitos desses dados são fornecidos nos textos motivadores (de apoio) da prova.

Ou seja, é preciso ler com atenção para entender quais informações podem ser significativas e relevantes para seus argumentos.

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A Lei do Feminicídio (13.104/2015)

A Lei do Feminicídio (13.104/15) foi criada a partir da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre Violência contra a Mulher do Congresso Nacional a partir de dados analisados entre 2012 e 2013.

Esta Lei alterou o Código Penal brasileiro, incluindo o homicídio contra mulher por razão de gênero como qualificador desse tipo de crime, além de colocá-lo na lista de crimes hediondos.

Na prática, isso significa que o feminicídio passou a ser considerado um crime hediondo e sem motivo passional.

Ter sido considerado hediondo aumentou a pena de reclusão do criminoso, a punição parte de 12 anos de cadeira, em vez de 6, como em homicídios sem crime hediondo.

Para ser enquadrado como crime de feminicídio, é preciso que esteja relacionado a violência doméstica ou familiar ou com o menosprezo e discriminação pela condição de gênero, ou seja, ser mulher.

Assim, crimes resultantes da violência doméstica ou quando o autor do crime é um familiar ou teve um laço afetivo com ela são considerados feminicídio, já que se entende que quem cometeu o crime conta com uma relação de poder sobre a mulher.

Na segunda situação, é considerado feminicídio quando o crime está relacionado a discriminação: casos de misoginia, ameaças, objetificação e violência sexual, mesmo quando a vítima não conheça o autor.

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A estrutura ideal de uma redação sobre feminicídio

Abordar o feminicídio em uma redação do Enem pode parecer complicado, mas o primeiro passo é sempre entender o que os avaliadores esperam dos candidatos.

O primeiro ponto é que a redação do Enem precisa ser escrita como texto dissertativo-argumentativo. Ou seja, precisa abordar o tema e argumentar as possíveis problemáticas sobre ele. Tudo isso feito em prosa, ou seja, texto corrido.

É importante considerar, também, que os argumentos e soluções não podem ir contra os Direitos Humanos.

Para escrever uma boa redação sobre feminicídio no Enem é preciso seguir a estrutura de introdução, desenvolvimento e conclusão, abordando o tema e, obrigatoriamente, mostrando possíveis soluções para o problema.

Introdução (1 parágrafo - 7 linhas, em média)

Saber como fazer uma boa introdução é essencial, já que é o parágrafo de abertura. Assim, é preciso contextualizar o tema e suas problemáticas, indicando porque é uma discussão relevante para a sociedade como um todo. Não é preciso aprofundar na argumentação, isso será feito no desenvolvimento. Vale também trazer alguns dados e citações nesse parágrafo.

Desenvolvimento (2 parágrafos - 8 linhas cada, em média)

Esse é o momento de realmente desenvolver o tema e suas problemáticas, trazendo argumentos para sustentar a sua tese. É possível utilizar os dados para confirmar ou refutar alguma ideia, mostrando a capacidade de interpretação das informações.

É interessante abordar mais de uma problemática sobre o tema, explicando como a questão afeta a sociedade. Assim, seu texto terá mais de um argumento, o que o torna mais interessante e bem avaliado.

Conclusão (1 parágrafo - 7 linhas, em média)

O último parágrafo é destinado à apresentação de uma solução para pelo menos um dos argumentos apresentados no desenvolvimento.

Nesse caso, é preciso considerar quem será o agente responsável por essa solução (agente), qual ação será tomada (ação), como será feita (modo) e qual o objetivo (finalidade).

Saber como escrever uma boa redação sobre feminicídio pode ser o grande diferencial para se sair bem na redação. Por isso, vale a pena estudar e treinar esse tema.

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Exemplos de redação sobre feminicídio que conquistaram nota 1000 no Enem

Leia dois exemplos de redação que abordaram o feminicídio e receberam a nota 1000 na edição de 2015 do Enem, que teve como tema "A Persistência da Violência contra a Mulher na Sociedade Brasileira".

Exemplo 1 - Texto de Amanda Carvalho Maia Castro:

A violência contra a mulher no Brasil tem apresentado aumentos significativos nas últimas décadas. De acordo com o Mapa da Violência de 2012, o número de mortes por essa causa aumentou em 230% no período de 1980 a 2010. Além da física, o balanço de 2014 relatou cerca de 48% de outros tipos de violência contra a mulher, dentre esses a psicológica. Nesse âmbito, pode-se analisar que essa problemática persiste por ter raízes históricas e ideológicas.
O Brasil ainda não conseguiu se desprender das amarras da sociedade patriarcal. Isso se dá porque, ainda no século XXI, existe uma espécie de determinismo biológico em relação às mulheres. Contrariando a célebre frase de Simone de Beavouir “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, a cultura brasileira, em grande parte, prega que o sexo feminino tem a função social de se submeter ao masculino, independentemente de seu convívio social, capaz de construir um ser como mulher livre. Dessa forma, os comportamentos violentos contra as mulheres são naturalizados, pois estavam dentro da construção social advinda da ditadura do patriarcado. Consequentemente, a punição para este tipo de agressão é dificultada pelos traços culturais existentes, e, assim, a liberdade para o ato é aumentada.
Além disso, já o estigma do machismo na sociedade brasileira. Isso ocorre porque a ideologia da superioridade do gênero masculino em detrimento do feminino reflete no cotidiano dos brasileiros. Nesse viés, as mulheres são objetificadas e vistas apenas como fonte de prazer para o homem, e são ensinadas desde cedo a se submeterem aos mesmos e a serem recatadas. Dessa maneira, constrói-se uma cultura do medo, na qual o sexo feminino tem medo de se expressar por estar sob a constante ameaça de sofrer violência física ou psicológica de seu progenitor ou companheiro. Por conseguinte, o número de casos de violência contra a mulher reportados às autoridades é baixíssimo, inclusive os de reincidência.
Pode-se perceber, portanto, que as raízes históricas e ideológicas brasileiras dificultam a erradicação da violência contra a mulher no país. Para que essa erradicação seja possível, é necessário que as mídias deixem de utilizar sua capacidade de propagação de informação para promover a objetificação da mulher e passe a usá-la para difundir campanhas governamentais para a denúncia de agressão contra o sexo feminino. Ademais, é preciso que o Poder Legislativo crie um projeto de lei para aumentar a punição de agressores, para que seja possível diminuir a reincidência. Quem sabe, assim, o fim da violência contra a mulher deixe de ser uma utopia para o Brasil.

Exemplo 2 - Texto de Sofia Dolabela Cunha Saúde Belém:

É inegável o fato de que, na sociedade brasileira contemporânea, a igualdade de gêneros é algo que existe apenas na teoria. Medidas como a criação da Lei Maria da Penha e da Delegacia da Mulher, apesar de auxiliarem na fiscalização contra a violência ao sexo feminino e na proteção das vítimas, são insuficientes e pouco eficazes, algo comprovado através da alta taxa de feminicídios ocorridos em nosso país, além dos enormes índices de relatos de vítimas de violência.
O aumento notório de crimes contra a mulher realizados na última década deve-se a inúmeros fatores. A completa burocracia presente nos processos de atendimento às vítimas de estupro, por exemplo, refuta mulheres que apresentam traumas e não recebem acompanhamento psicológico adequado, sendo orientadas a realizar o exame de corpo de delito, procedimento, por vezes, invasivo. Além disso, é comum que o relato da vítima tenha sua veracidade questionada, não recebendo a atenção necessária. Com o afastamento de possíveis denúncias, não há redução no número de assassinatos e de episódios violentos.
A cultura machista em que estamos inseridos dissemina valores como a culpabilização da vitima: muitas vezes, a mulher se cala porque pensa que é a culpada pela violência que sofre. Acredita-se, também, que apenas a violência física e sexual deve ser denunciada, ou que a opressão moral é algo comum. A passividade diante de tais situações cede espaço para o crescimento de comportamentos violentos dentro da sociedade.
Tendo em vista as causas dos altos índices de violência contra a mulher no Brasil, é necessário que haja intervenção governamental para aprimorar os órgãos de defesa contra tais crimes, de modo a tornar o atendimento mais rápido e atencioso. O mais importante, no entanto, é atingir a origem do problema e instituir em escolas aulas obrigatórias sobre igualdade de gênero, apresentando de forma mais simples conceitos desenvolvidos, por exemplo, por Simone de Beauvoir, de modo a desconstruir desde cedo ideias preconceituosas que são potenciais estimulantes para futuros comportamentos violentos.

Os exemplos acima foram divulgados pelo G1.

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Redação Blog do EAD

Por Redação Blog do EAD

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