O que é a sociedade do cansaço e como lidar com o fenômeno

Postado em 15 de dez de 2021
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Sociedade do cansaço é um termo criado pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, que também é responsável pelo conceito de “sociedade do desempenho”.

Em seu livro Sociedade do cansaço (2010), Han defende que o inconsciente social contemporâneo é dominado por um paradigma de desempenho, onde cada indivíduo se tornou empresário de si mesmo e está constantemente em busca de maximizar sua produção.

Segundo o filósofo, essa sociedade também é marcada pela positividade e pela fragmentação da atenção. 

Todas estas características ficam ainda mais visíveis em tempos de pandemia, quando a maioria dos trabalhadores passaram a gerir mais diretamente a sua própria rotina de trabalho.

Acompanhe a leitura para saber mais sobre esse conceito e sobre como se defender da sociedade do cansaço.

 

O que é a sociedade do cansaço 

O conceito de sociedade do cansaço, desenvolvido pelo filósofo Byung-Chul Han, pode ser considerada uma proposta de superação da ideia de “sociedade disciplinar, de Michel Foucault.

Enquanto na sociedade disciplinar do século XX, o sujeito moderno era vigiado e punido pelo sistema, na sociedade do cansaço o sujeito se tornou seu próprio vigia. 

Essa auto governança se sustenta por um discurso de positividade, que coloca o indivíduo como um ser plenamente capaz de superar todos os desafios impostos:

A sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar,  mas uma sociedade de desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais ‘sujeitos de obediência’, mas ‘sujeitos de desempenho e produção’. São empresários de si mesmos, no lugar de ‘proibição’, ‘mandamento’ ou 'lei' , então 'projeto' ou 'iniciativa' é 'motivação'. A sociedade disciplinar é dominada pelo ‘não’. Sua negatividade gera loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho, pelo contrário, gera depressivos e fracassados.— Byung-Chul Han

No entanto, com a avalanche de expectativas depositadas sobre si mesmos, os indivíduos se sentem constantemente em falta, como se não estivessem performando tão bem quanto poderiam ou deveriam.

O livro de Byung-Chul Han 

Um fato curioso sobre o livro de Byung-Chul Han, Sociedade do cansaço (2010), é que a obra é extremamente curta em comparação a outros livros de filosofia.

O tamanho da obra está em sintonia com a tese do autor de que os indivíduos contemporâneos não conseguem se fixar em uma única tarefa por muito tempo.

Por curiosidade, as traduções brasileiras desta obra tem um alto volume de busca, tornando o autor bastante conhecido no país.

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As principais características da sociedade do cansaço

Fragmentação da atenção

Segundo Byung-Chul Han, a sociedade do cansaço é caracterizada por uma atenção plana e rasa.

Dentro deste sistema, que rege o capitalismo contemporâneo, o indivíduo é valorizado por ser multitarefas

No entanto, para Han, essa característica representa um “retrocesso a um estado selvagem”, uma vez que a inteligência humana se desenvolveu até o que é hoje a partir do aprofundamento analítico. 

Nesse sentido, o aprofundamento só é possível quando nos dedicamos a uma única tarefa por vez.

Han coloca ainda que a fragmentação da atenção está associada à desvalorização do tédio e da contemplação, condições importantes para a criação. 

Uma vez diante do tédio, o indivíduo da sociedade do cansaço logo busca algum estímulo externo que o envolva em novas atividades e sensações, que o coloque em “produção”.

O excesso de positividade 

O autor identifica um excesso de positividade na sociedade do cansaço, caracterizado pela ausência de pensamentos e narrativas negativas.

Todos acreditam que são plenamente capazes de alcançar seus objetivos e que, com os esforços certos, serão responsáveis pela própria felicidade. 

Essa visão está introjetada na subjetividade dos indivíduos, o que Han define como “controle neural”.

No entanto, a busca incessante pela auto satisfação por meio da produção resulta num certo “esvaziamento da alma”, gerando sofrimentos psicológicos como depressão, ansiedade, sentimentos de insuficiência e baixa autoestima.

O doping 

O trabalho em excesso e a imposição de outras atividades no tempo livre torna-se uma agressão ao corpo e à mente, o que Han chama de “violência exaustiva”.

Todo esse excesso é imposto pelo próprio indivíduo, que é senhor e escravo de si mesmo.

O resultado incontornável são os sinais de fadiga enviados pelo corpo e pela mente. No entanto, quando estes sintomas surgem, entram em cena os medicamentos que neutralizam as reações do organismo, sendo os mais comuns os antidepressivos.

Nesse sentido, o doping se torna mais uma ferramenta de sustentação da sociedade do cansaço.

Isolamento 

A sociedade do cansaço também traz impactos aos relacionamentos interpessoais, afastando as pessoas por conta da hiper competição.

Todos sentem que precisam produzir mais do que os outros. Nesse contexto, as redes sociais tornam-se lugares de pressão social por desempenho.

Diálogos abertos se tornam mais raros, à medida que o outro é encarado como um adversário.

A rede social, que poderia ser um bom meio para fazer amizades e aumentar a interação, acaba tendo um efeito contrário, pois nos faz sentir incapazes. — Byung-Chul Han

A vontade de querer tudo e não ter nada 

Na sociedade contemporânea, muitas vezes vive-se uma dicotomia entre excesso ou falta, onde qualquer prazer que não seja excessivo é caracterizado como falta.

Em certa hora nos sentimos capazes e em outra somos incapazes demais. Nessa lógica, qualquer falha torna a pessoa inapta ou fraca demais. 

Preocupação excessiva com a saúde física 

O ideal de desempenho se estende também para a “saúde física”, que está mais associada à forma física do que a uma saúde integral.

Pessoas que demonstram boa performance física, além do bom desempenho social, são mais valorizadas e se tornam algo como “garotas propaganda” do capitalismo contemporâneo.

É possível se proteger da sociedade do cansaço? 

A resposta é “sim, é possível”. 

O primeiro passo para se auto proteger é perceber sua existência. 

Se você chegou até aqui, certamente identificou diversas características da sociedade do desempenho presentes no seu modo de pensar e já está ciente de que esta sociedade mora em todos nós.

É hora de começar a perceber quando esses pensamentos e atitudes ocorrem, por que ocorrem e, então, encontrar novas maneiras de pensar e agir.

É de suma importância valorizar o tempo de ócio e controlar a ansiedade que chega com ele, sem recorrer às redes sociais. 

Experimente contemplar o seu tédio, utilize esse tempo para pensar na vida e meditar, de preferência respire fundo para trazer a mente para o agora.

Focar no presente, nutrir amor e compaixão por você mesmo e conversar sobre os efeitos da “sociedade do cansaço” com amigos, familiares e, se possível, na terapia, é um bom caminho. 

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Conclusão

A sociedade do cansaço é um conceito que joga luz sobre as questões do século XXI. Por meio do conhecimento e do pensamento crítico, Byung-Chul Han concede a todos um caminho de luta contra as formas de opressão contemporâneas.

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Redação Blog do EAD

Por Redação Blog do EAD

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