Embora a Educação a Distância (EAD) tenha crescido de forma expressiva no Brasil, com um aumento de 700% no número de cursos nos últimos dez anos, nem todas as áreas do conhecimento se adequam plenamente a esse formato.
Em 2025, o Ministério da Educação (MEC) publicou a Portaria nº 378, que regulamenta a nova política de EAD no país e define os cursos vedados nesse formato. Psicologia, ao lado de Medicina, Direito, Enfermagem e Odontologia, passou a integrar o grupo de graduações que devem ocorrer exclusivamente de forma presencial, devido à centralidade das atividades práticas, dos laboratórios e dos estágios supervisionados.
Por que o MEC proibiu a criação de cursos de Psicologia EAD
A decisão do MEC de vedar a oferta de cursos de Psicologia EAD está fundamentada em um conjunto de argumentos técnicos, éticos e pedagógicos que ressaltam a natureza relacional da formação e da prática profissional do psicólogo.
No entanto, em 2022 o MEC autorizou a abertura do primeiro curso de Psicologia EAD, mas logo depois revogou a decisão. Tal fato evidenciou a preocupação das instituições e conselhos de classe com a qualidade da formação dos futuros psicólogos.
As entidades representativas da categoria, como o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP), defendem que o processo formativo exige experiências presenciais que não podem ser substituídas por atividades virtuais. A aprendizagem em Psicologia depende do contato humano, da observação direta e da vivência em situações concretas de escuta, acolhimento e intervenção, dimensões que envolvem não apenas o domínio cognitivo, mas também aspectos emocionais, éticos e relacionais.
Assim, a proibição não representa resistência à inovação tecnológica, mas a defesa da qualidade formativa e da essência da profissão. A presença, entendida como experiência humana, ética e afetiva, é vista como um princípio estruturante da formação em Psicologia, sem o qual não seria possível garantir o desenvolvimento das competências necessárias ao exercício responsável da prática psicológica.
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O que se estuda em uma graduação de Psicologia
A graduação em Psicologia tem como objetivo formar profissionais capazes de compreender o ser humano em sua complexidade, considerando seus aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Durante o curso, o estudante desenvolve conhecimentos científicos, técnicos e éticos voltados para a promoção da saúde mental, o bem-estar e o respeito à dignidade e à integridade das pessoas.
Ao longo da formação, o aluno estuda os principais processos psicológicos (percepção, memória, aprendizagem, desenvolvimento, personalidade, emoções e comportamento) e aprende a analisá-los sob diferentes perspectivas teóricas. Também são abordadas as influências dos fatores hereditários, ambientais e socioculturais sobre o comportamento humano, permitindo ao futuro psicólogo compreender as interações entre o indivíduo e o meio.
A formação inclui disciplinas teóricas e práticas em diversas áreas de atuação da Psicologia, como saúde, educação, trabalho, justiça, comunidades, esporte e organizações. Os estudantes aprendem a realizar observações, entrevistas e diagnósticos psicológicos, a aplicar e interpretar testes e instrumentos de avaliação, além de desenvolver habilidades de escuta, empatia e comunicação.
Nos estágios supervisionados, o aluno vivencia situações reais de atendimento e intervenção, seja em clínicas, hospitais, escolas, empresas ou instituições públicas. Essas experiências favorecem o desenvolvimento de competências profissionais, como o psicodiagnóstico, a orientação psicológica e o trabalho em equipe multiprofissional.
O curso também estimula a pesquisa científica e a participação em projetos de extensão, permitindo que o estudante contribua para a produção e divulgação do conhecimento em Psicologia. Assim, a graduação prepara o futuro psicólogo para compreender, analisar e intervir nas diferentes dimensões da experiência humana, promovendo o desenvolvimento integral das pessoas e das comunidades em que atua.
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A importância da presencialidade na formação de psicólogos
Embora o ensino a distância ofereça vantagens como flexibilidade e maior alcance territorial, ele apresenta limitações significativas para a formação em Psicologia.
Conforme exposto anteriormente, a formação em Psicologia requer um conjunto de experiências e vivências que ultrapassam o domínio teórico e técnico. Mais do que aprender conceitos, o futuro psicólogo precisa desenvolver competências éticas, relacionais e clínicas que dependem diretamente da presença, da observação e do convívio com outras pessoas.
A presencialidade, nesse sentido, é o eixo que sustenta o processo formativo, pois favorece o contato humano, o diálogo e a experimentação prática — dimensões impossíveis de serem plenamente reproduzidas por meio do EAD.
A modalidade EAD apresenta sérias limitações quando se trata da formação psicológica. A ausência de interação pessoal prejudica o desenvolvimento de habilidades interpessoais, fundamentais para o exercício da escuta ativa, da empatia e da leitura dos aspectos não verbais da comunicação como gestos, silêncios e expressões corporais. Além disso, práticas essenciais à formação, como a administração e interpretação de testes psicológicos, observações comportamentais em contextos reais e intervenções em grupos ou instituições, demandam supervisão direta e acompanhamento presencial.
Outro ponto crítico é a dificuldade de reproduzir, a distância, as experiências em estágios, laboratórios e projetos de extensão, que inserem o estudante nos contextos concretos de atuação profissional. Nessas atividades, o contato com pacientes, comunidades e equipes multiprofissionais permite o desenvolvimento de competências éticas e o aprendizado sobre os limites e responsabilidades da prática psicológica. No EAD, tais vivências tendem a ser substituídas por simulações ou estudos de caso descontextualizados, o que compromete a formação.
Portanto, a presencialidade não é apenas uma escolha pedagógica, mas uma exigência epistemológica e ética da Psicologia. Ela assegura a formação integral do psicólogo, permitindo-lhe compreender o sujeito em sua complexidade e agir com sensibilidade e responsabilidade diante das demandas humanas e sociais que caracterizam o exercício da profissão.
Perguntas frequentes sobre Psicologia EAD
💡 Quer saber mais sobre Psicologia EAD? Confira as fontes consultadas para este artigo:
- Brasil. Ministério da Educação. Assinado decreto que institui a nova política de EAD. Brasília, DF: MEC, 21 maio 2025. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2025/maio/assinado-decreto-que-institui-a-nova-politica-de-ead
- Carvalho, João Eduardo Coin de; Magano, Fernanda; Bernardes, Jefferson. A defesa da formação presencial na Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 45, n. spe1, p. e298291, 2025.
- Conselho Federal de Psicologia (CFP). Atividades profissionais do psicólogo. Brasília, DF: CFP, 2008. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2008/08/atr_prof_psicologo.pdf
- Conselho Federal de Psicologia (CFP). Psicologia garantida como curso presencial. Brasília, DF: CFP, [s.d.]. Disponível em: https://site.cfp.org.br/psicologia-garantida-como-curso-presencial-em-marco-regulatorio-do-ensino-a-distancia/
- Desafios da Educação.
Psicologia EAD: argumentos prós e contras. Disponível em:
https://desafiosdaeducacao.com.br/psicologia-ead-argumentos-pros-contras
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