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O papel do professor na educação inclusiva

Escrito por Mariana Moraes | 12/06/21 11:30

Você já imaginou chegar em uma sala de aula e ver todos os conteúdos descritos em uma linguagem incompreensível? Ou já pensou se todos os professores utilizassem metodologias de ensino que não funcionam para você? Certamente, seu processo de aprendizagem ficaria bastante comprometido, não é mesmo?

Os problemas que descrevemos afetam grande parte dos estudantes com deficiência (física, intelectual, visual, auditiva e múltipla). Mesmo que venha sendo muito debatida na mídia e nos contextos escolares, a educação inclusiva ainda não é uma realidade. 

É preciso que vários desafios sejam superados, e muitos deles começam na própria sala de aula. 

Além de problemas relacionados à infraestrutura da instituição, grande parte dos professores não estão capacitados para incluir todos os perfis de alunos. 

De acordo com o Censo Escolar 2019, apenas 6% dos professores da educação básica têm formação adequada para dar aulas para estudantes com deficiência. Na contramão, a rede brasileira atende mais de 1,25 milhão de estudantes com essas necessidades.

Ou seja, os dados mostram uma defasagem na preparação dos professores.

Qual o papel dos educadores na transformação dessa realidade? Como eles podem se preparar para tornar a sala de aula um ambiente mais inclusivo?

Neste artigo, vamos falar mais sobre educação inclusiva e trazemos algumas reflexões sobre o papel do professor nesse contexto. 

Confira:

 

O que é educação inclusiva 

Utilizamos o termo educação inclusiva para nos referir a uma abordagem de ensino que busca garantir o acesso, a permanência e as condições de aprendizagem para todas as pessoas, incluindo aquelas que possuem alguma deficiência.

Por meio dela, é possível promover a valorização da diversidade humana e a efetiva participação de todas pessoas no sistema educacional. 

Com base nos princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana, sabemos que educação é um direito essencial de todo o indivíduo. 

Afinal, ela nos prepara para viver em sociedade, oferecendo ferramentas para nos inserirmos no mercado de trabalho e exercermos nossa cidadania de forma plena. 

Contudo, por muitos anos, a educação das PcD (pessoas com deficiência) apresentou um caráter muito mais excludente do que inclusivo. 

Até alguns anos atrás, era muito comum que essas pessoas fossem encaminhadas a centros de ensino específicos e homogêneos, caracterizados de acordo com a deficiência. 

A escolarização nessas instituições era tratada de forma secundária, acarretando diversos problemas de aprendizagem. Por exemplo: muitas pessoas deixavam essas intuições sem nenhum tipo de certificação escolar. 

Esse cenário só começou a mudar a partir da Leis de Diretrizes Básica da Educação – LDB/96.

Com essa legislação, a educação especial deixou de ser vista como um sistema de ensino paralelo. 

Assim, foi se consolidando o conceito de educação inclusiva e novas práticas passaram a ser incorporadas no sistema educacional.

A educação das pessoas com deficiência no Brasil

Nos últimos tempos, o número de estudantes com deficiência matriculados nas escolas brasileiras aumentou.

De acordo com o Censo Escolar 2019, entre 2014 e 2018, houve um aumento de 33,2% no número de matrículas de alunos com deficiência, sendo que 92,1% do total estão incluídos em classes comuns. 

Apesar disso, ainda é comum que a maioria das escolas no país careçam de estrutura para serem consideradas inclusivas, tanto na questão estrutural quanto metodológica. 

De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica, de 2019, apenas 44,2% das escolas urbanas são acessíveis para pessoas com mobilidade reduzida, sendo que na zona rural esse número cai para 17,9%.

Também segundo o Anuário, somente 31,5% das escolas urbanas possuem salas de recursos multifuncionais para Atendimento Educacional Especializado (AEE). Na zona rural esse percentual é ainda menor, de 16,1%.

Além disso, como vimos no começo deste artigo, segundo o Censo Escolar 2019, apenas uma minoria – 6% – dos professores estão capacitados para atender às demandas de aprendizagem dos alunos com deficiência. 

Assim, mesmo que o sistema educacional se proponha inclusivo, ainda existem diversos entraves que dificultam uma real inclusão e acesso dos estudantes com deficiência à educação.

🔵Leia também: Educação física inclusiva: o que é e como praticar

Como o professor pode contribuir na inclusão de estudantes 

Quando falamos em inclusão, estamos nos referindo a um conjunto de estratégias e recursos para garantir o atendimento e aprendizado de todos os alunos, independente de suas deficiências ou necessidades especiais.

Essa inclusão passa por diversos âmbitos, sendo responsabilidade tanto do Estado quantos dos profissionais que trabalham no dia a dia com os estudantes. 

Nesse contexto, os professores, em especial, têm um papel central. 

Afinal, cabe a eles ter conhecimento das dificuldades de seus alunos, bem como de suas características próprias. A partir disso, é possível propor atividades mais inclusivas, garantindo metodologias de ensino realmente eficazes.

Essas mudanças são necessárias para também incentivar a solidariedade e inclusão entre os alunos. 

A diversidade do ambiente escolar requer do profissional um olhar que contemple todos os alunos sem exceção, visando o desenvolvimento pleno de suas potencialidades.

Ou seja, o professor tem um papel de destaque nesse processo, sendo um dos principais agentes da inclusão dentro das salas de aula.

🔵Leia também: 3 atividades inclusivas para fazer em sala de aula com seus alunos

6 ações para promover a educação inclusiva na sua sala de aula

Se você chegou até aqui, é possível que esteja se perguntando: “como eu, professor, posso em meu dia a dia tornar a sala de aula um ambiente mais inclusivo e igualitário?”.

Abaixo, separamos algumas dicas e reflexões que podem ajudá-lo a encontrar uma resposta para essa questão. Confira:

1. Não veja a educação especial como um sistema paralelo 

Há alguns anos, era muito comum que os alunos com deficiência estivessem em escolas ou turma separadas. Sua formação escolar se dava por meio de um sistema educacional paralelo e que muitas vezes não atendia às suas reais necessidades de formação. 

Pensando em promover a educação inclusiva, é essencial que esse pensamento fique no passado.

A educação especial não pode ser encarada como um sistema educacional à parte. Ela deve ser parte das práticas escolares como um todo. 

Educação inclusiva não é apenas um conjunto de métodos e técnicas especializadas para serem aplicadas na classe regular. É um sistema de suporte permanente e efetivo para que os alunos com deficiência sejam incluídos.

Ou seja, devem ser práticas que permeiam as atividades escolares como um todo, e não simples adaptações temporárias. 

Pensar em educação inclusiva não é algo para se fazer apenas na presença de aluno com deficiência na turma. É algo para se pensar desde o momento de elaborar as atividades e pensar as práticas pedagógicas.

2. Respeite os diferentes ritmos de aprendizagem 

O professor é responsável por guiar e orientar as atividades dos alunos durante o processo de aprendizagem. É ele quem media o processo de aquisição dos saberes e competências essenciais para cada nível de ensino. 

Cada perfil de aluno tem características diversas, podendo haver diferentes ritmos de aprendizagem em uma mesma sala . É muito comum que alguns alunos tenham mais facilidade em algumas coisas do que em outras. Isso faz parte da dinâmica escolar. 

Sendo assim, é essencial que o professor tenha um planejamento flexível na abordagem do conteúdo, buscando garantir a promoção de múltiplas formas de participação nas atividades educacionais e uma boa recepção dos diversos modos de expressão dos alunos.

Para ter uma boa compreensão sobre os alunos e suas condições de aprendizagem, o educador deve observá-los em diversos momentos da aula.

Os critérios de observação devem ser selecionados com base no currículo e nas habilidades que o professor considerou no seu planejamento.

Assim, é possível elaborar um plano de ensino mais inclusivo e que respeite os diferentes perfis e ritmos de aprendizagem.

🔵Leia também: O que é uma metodologia ativa e como ela melhora o ensino-aprendizagem

3. Concentre-se na competência dos estudantes e não nas limitações

Muitas vezes, quando um educador se depara com um estudante com deficiência, é comum que ela caia no erro de focar em suas limitações. 

Ou seja, baseia suas metodologias e técnicas de ensino usando como referência aquilo que os estudantes não conseguem atender. E esse não é o melhor tipo de abordagem. 

Sabemos, por exemplo, que o aluno com deficiência visual não acessará as aulas pela visão, pois sua condição restritiva é sensorial. 

Para resolver essa questão, muitos professores recorrem a materiais separados, o que torna a experiência educacional excludente muitas vezes. Esse tipo de atitude é focar na limitação.

É imprescindível que os educadores contem com instrumentos para identificar a potencialidade e os saberes de cada um de seus alunos. Um aluno com deficiência visual pode ter uma restrição sensorial, mas diversas outras competências. 

Ao identificar essas competências, os professores serão capazes de encontrar alternativas de ensino e condições favoráveis à participação nas aulas e à aprendizagem.

É um trabalho que exige tempo e observação, mas certamente proporcionará um ambiente muito mais inclusivo e um aprendizado mais qualificado para todos os estudantes. 

4. Crie um Plano Educacional Individualizado (PEI) para cada estudante com deficiência 

Além das estratégias que mencionamos anteriormente, outro ponto que pode ajudar a tornar sua sala de aula mais inclusiva é a elaboração de um Plano Educacional Individualizado (PEI).

Plano Educacional Individualizado é um documento de organização curricular elaborado pelo professor. Ele é feito a partir de um levantamento de necessidades, conhecimentos prévios, potencialidades e habilidades dos estudantes. 

É um documento voltado para alunos com deficiências, com transtornos globais de desenvolvimento, com altas habilidades ou superdotação ou com dificuldades de aprendizagem.

A PEI é imprescindível para identificar os conhecimentos prévios do aluno e oferecer condições para que ele seja inserido e efetivamente faça parte da turma e da comunidade escolar. 

Também é muito importante que sejam feitos registros da evolução dos processos, com os objetivos de curto, médio e longo prazo para sua aprendizagem, bem como aquilo que o próprio professor conseguiu observar desse aluno – a melhor forma de reter o que aprendeu e tipos atividades mais bem desenvolvidas pelo aluno, por exemplo.

O desenvolvimento e a aplicação do PEI só trazem benefícios para o aluno e para comunidade escolar. 

Através dele, o professor pode perceber caminhos que poderão levar o estudante ao êxito na sua trajetória acadêmica.

5. Converse com a equipe do Atendimento Educacional Especializado (AEE) 

Todo profissional da educação com alunos com deficiência pode solicitar, por lei, o acompanhamento da equipe de Atendimento Educacional Especializado (AEE).

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é um serviço de educação especial regulamentado por lei. 

Essa equipe é responsável pelo planejamento e pela execução de recursos pedagógicos e de acessibilidade, buscando eliminar obstáculos para a participação efetiva dos alunos com necessidades específicas.

Esses profissionais podem auxiliar o trabalho de inclusão dos professores, orientando em relação às melhores práticas pedagógicas e ajudando a encontrar meios de superar desafios. 

Ou seja, é indispensável que os professores troquem informações e busquem orientações com esses profissionais.

🔵Leia também: Psicopedagogia: mercado de trabalho, quanto ganha e onde estudar

6. Invista na sua formação 

Existem cursos de pós-graduação em educação voltados a professores que desejam tornar suas práticas pedagógicas mais inclusivas.

Há especializações mais abrangentes, que abordam a importância da diversidade como um todo, e as voltadas ao atendimento das necessidades mais específicas dos estudantes com deficiência – como é o caso de cursos de braille e Libras.

O importante é investir em educação continuada e estar por dentro das últimas pesquisas sobre educação especial e inclusiva.

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