Os princípios da abordagem Reggio Emilia

Olívia Baldissera • 13 de junho de 2024

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    A valorização e o desenvolvimento das potencialidades de cada criança é a proposta da abordagem Reggio Emilia, que coloca o estudante no centro do processo de ensino e aprendizagem.

    A filosofia educacional defende que toda criança é um sujeito de direitos que aprende e cresce ao se relacionar com os outros. Ela se desenvolve por meio de experiências diárias, contato com diferentes pontos de vistas e mobilização de pensamentos e emoções.

    A expressividade e a criatividade são trabalhadas a partir da união de três educadores: professores, família e ambiente. Essa perspectiva é reconhecida no meio educacional do mundo todo, por ser considerada um meio de inovar na Educação Infantil.

    A seguir, você vai conhecer os princípios norteadores da abordagem Reggio Emilia, além de descobrir formas de aplicar essa filosofia em sala de aula.

    A história da abordagem Reggio Emilia

    Tudo começou em 1947, em um vilarejo do norte da Itália destruído pelos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, Villa Cella – localizada na comuna de Reggio Emilia, que dá nome à abordagem pedagógica.

    A comunidade se uniu para reconstruir a escola da região, que receberia o nome “25 Aprille” (“25 de abril, em português). Era uma referência à data que marcou o fim da ditadura fascista na Itália.

    Para conseguir os fundos para a construção, foram vendidos um tanque de guerra, seis cavalos e três caminhões deixados pelos alemães. A gestão da escola seria feita pelos pais dos estudantes, em parceria com a União das Mulheres Italianas (UDI, na sigla em italiano), que já administravam mais de 60 pré-escolas em Reggio Emilia.

    A notícia da iniciativa se espalhou pela comuna e chamou a atenção de um jovem pedagogo, Loris Malaguzzi (1920-1994). Ele tinha como referenciais teóricos os trabalhos de Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896-1934), John Dewey (1859-1952) e Maria Montessori (1870-1952), que o levaram a desenvolver uma abordagem que coloca a criança no centro do processo pedagógico.

    Malaguzzi atuou por 7 anos na escola 25 Aprille. Esta passaria a ser administrada pelo município de Reggio Emilia em 1967, que manteria a abordagem educacional que tornou a região conhecida pelo país.

    Em 1991, a abordagem Reggio Emilia se tornou uma referência mundial em Educação Infantil graças a uma reportagem da Newsweek , que incluiu uma pré-escola da comuna, a Escola Diana, entre as dez melhores do mundo.

    Três anos depois foi fundada a Reggio Children , um centro internacional de pesquisa e defesa dos direitos das crianças. Hoje a rede conta com 13 creches e 21 pré-escolas na Itália, além de promover a formação de educadores em 34 países, incluindo o Brasil.

    As cem linguagens da criança, de Loris Malaguzzi

    O nome de Malaguzzi se tornou sinônimo da abordagem Reggio Emilia. O poema “As Cem Linguagens da Criança” , escrito pelo pedagogo, foi escolhido como um manifesto da filosofia educacional.

    Confira a tradução para o português:

    A criança é feita de cem.
    A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, de jogar e de falar.
    Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar.
    Cem alegrias para cantar e compreender.
    Cem mundos para descobrir.
    Cem mundos para inventar.
    Cem mundos para sonhar.
    A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem), mas roubaram-lhe noventa e nove.
    A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.
    Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar,
    De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal.
    Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem, roubaram-lhe noventa e nove.
    Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação,
    O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas.
    Dizem-lhe: que as cem não existem.
    A criança diz: ao contrário, as cem existem.

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    Os 7 princípios da abordagem Reggio Emilia

    Os princípios da abordagem Reggio Emilia detalham a ideia de que o aprendizado pode acontecer de outras maneiras além da mecânica, adquirindo um caráter mais dinâmico e criativo. O conhecimento deveria ser construído em conjunto e não retido pelos estudantes.

    Conheça cada um deles:

    1. A criança como protagonista

    A criança é a protagonista de todo o processo de ensino e aprendizagem, adquirindo uma postura ativa. Ela deve explorar todas as suas potencialidades a partir de linguagens que vão além da codificada, como as pictóricas, expressivas e manipulativas (modelos e maquetes). O movimento do corpo deve ser incluído ao processo, ao possibilitar o manejo de objetos e ferramentas multimídia.

    É com as descobertas sensoriais que o conhecimento é construído. A experimentação empodera os pequenos, que sentem-se estimulados a explorar o mundo por meio das linguagens.

    2. O professor como guia e aprendiz

    Os professores também são aprendizes na abordagem Reggio Emilia. Eles devem praticar uma pedagogia da escuta , ou seja, ouvir as crianças da forma como elas gostariam de serem ouvidas. Todas as suas linguagens devem ser consideradas, das palavras às ações.

    É a partir da escuta que o educador estabelece e aprimora o método de ensino, que deve garantir a aprendizagem ao mesmo tempo que respeita as particularidades de cada estudante.

    O professor precisa promover a aprendizagem nos aspectos:

    • Cognitivo;
    • Afetivo;
    • Social;
    • Interacional.

    Na perspectiva reggiana, o ideal é que cada turma conte com pelo menos dois professores, o que facilita a observação e a escuta.

    3. A arte como linguagem expressiva

    A arte possibilita a experimentação, fundamental para a criança formular hipóteses e estabelecer relações entre objeto e conhecimento.

    Na abordagem Reggio Emilia, as artes são trabalhadas em um ambiente educativo chamado de ateliê, onde são realizadas atividades como pintura, música e contação de histórias. Elas são indicadas como aliadas da aprendizagem significativa.

    O profissional responsável por esse ambiente é o atelierista. Ele deve guiar os pequenos na manipulação dos materiais, apresentar novas vivências estéticas e documentar as experiências de cada estudante. Seu trabalho deve complementar o dos professores em sala.

    4. A cooperação como base do sistema educacional

    A abordagem Reggio Emilia defende a ideia da “escola sem muro”, em que a comunidade contribui ativamente na construção de um processo de ensino e aprendizagem que considere as potencialidades dos estudantes.

    Professores, educadores, gestores, familiares e comunidade escolar como um todo devem trabalhar juntos pelo desenvolvimento pleno das crianças.

    5. O ambiente como o terceiro professor

    Quando falamos em ambiente, estamos nos referindo a todo espaço físico da escola e à casa da criança. Esses lugares devem estimulá-la a explorá-los com liberdade e segurança.

    Loris Magaluzzi dizia que o ambiente tem o poder de iniciar todo tipo de aprendizado social, afetivo e cognitivo, além de promover relacionamentos agradáveis entre pessoas de diferentes idades. Isso gera uma sensação de bem-estar , pertencimento e segurança nos estudantes.

    Escolas que seguem a filosofia reggiana compartilham alguns parâmetros nos projetos arquitetônicos, como:

    • Uso de tetos e paredes como espaço de exposição e documentação dos trabalhos artísticos feitos pela turma;
    • Aproveitamento da luz natural para estimular a curiosidade e a criatividade dos pequenos;
    • Mobiliário planejado para dar flexibilidade aos interiores, permitindo que as crianças modifiquem o espaço;
    • Jardins ou praças centrais como ponto de encontro dos diferentes ambientes da escola, como salas de aula, ateliê, biblioteca, cozinha, refeitório e áreas administrativas;
    • Paredes de vidro para conectar jardins internos e externos, facilitar a incidência de luz natural e dar a sensação de comunidade;
    • Espelhos de banheiro recortados em diferentes formatos;
    • Salas menores estrategicamente posicionadas para serem usadas por crianças que sentirem a necessidade de ter um refúgio.

    6. Pais como parceiros no processo de ensino e aprendizagem

    A família deve atuar como parceira da escola, independentemente da composição. Ela colabora com o processo por ser o primeiro vínculo de aprendizagem da criança.

    Isso significa participar de reuniões com professores e pedagogos, contribuir com as políticas escolares, acompanhar os encontros do conselho escolar e ajudar no planejamento do percurso pedagógico dos estudantes.

    7. A importância da documentação pedagógica

    A documentação é essencial na abordagem Reggio Emilia, já que ela possibilidade resgatar relatos que podem ser usados como base para outras experiências pedagógicas.

    A documentação não deve ser usada para definir a trajetória do aprendizado, mas, sim, como instrumento de reflexão sobre a relação entre ensino e aprendizagem. Em outras palavras, ela deve ser vista como entendimento e valorização do processo e não apenas como uma prova do resultado.

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    A abordagem Reggio Emilia e a BNCC da Educação Infantil

    A filosofia reggiana dialoga com a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) da Educação Infantil já na definição de “criança” do documento:

    “Sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.”

    Outro ponto de conexão são os direitos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil:

    1. Conviver com outras crianças e adultos utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro;
    2. Brincar cotidianamente de diferentes formas, em diferentes espaços e tempos, com crianças e adultos. Esse direito envolve diversificar o acesso a produções culturais, trabalhando assim a imaginação e a criatividade;
    3. Participar ativamente do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo professor, como na escolha de brincadeiras, materiais e ambientes;
    4. Explorar movimentos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, relacionamentos, histórias e elementos da natureza, na escola e fora dela;
    5. Expressar suas necessidades, emoções, dúvidas, descobertas e questionamentos por meio de diferentes linguagens;
    6. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento.

    Também é possível relacionar os princípios da abordagem Reggio Emilia aos 5 campos de experiência da BNCC para a Educação Infantil:

    1. O EU, O OUTRO E O NÓS

    As crianças devem interagir entre si e com adultos para criar percepções sobre si mesmas e sobre os outros. A escola deve criar oportunidades de contato com diferentes culturas e grupos sociais, para o estudante ampliar sua percepção sobre o mundo e valorizar as diferenças.

    2. CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS

    É por meio do corpo que as crianças exploram o mundo ao seu redor. Por isso as escolas devem estimular os pequenos a experimentarem diferentes movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo.

    3. TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS

    A escola deve possibilitar que a criança interaja com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas. É nessa interação que ela desenvolvera a sensibilidade, a criatividade e a expressão. Os estudantes também devem ser estimulados a criarem as próprias produções artísticas.

    4. ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO

    A escola deve promover experiências que permitam que as crianças falem e ouçam. Elas também devem ser estimuladas a se envolverem com a cultura escrita. Os pequenos devem conhecer as primeiras letras e desenvolverem uma escrita espontânea, entendendo que a escrita é um sistema de representação da língua.

    O educador deve permitir o contato com a literatura infantil e apresentar os diferentes gêneros literários. Outra mediação importante envolve a diferenciação entre ilustração e escrita.

    5. ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES

    As crianças devem passar por experiências que possibilitem fazer observações, manipular objetos, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas.

    Como trabalhar a abordagem Reggio Emilia na Educação Infantil

    Quem pensa em seguir a abordagem Reggio Emilia deve focar na formação continuada. Isso significa participar de congressos, acompanhar as últimas pesquisas na área de educação e fazer cursos de pós-graduação em educação.

    Mas é possível se inspirar em experiências bem sucedidas de outros educadores e colocar algumas ideias em prática, olha só:

    1. Leve sua turma para a cozinha da escola

    Quem trabalha na preparação dos alimentos da merenda escolar também pode ser um educador na abordagem Reggio Emilia.

    A ideia dessa atividade é o compartilhamento das experiências dos cozinheiros e cozinheiras, que podem explicar de onde vem os alimentos e como são preparados. As crianças não devem apenas observar, mas também manipular a comida.

    2. Aposte em brinquedos não-estruturados

    Se você dá aulas para meninos e meninas entre 3 e 6 anos de idade, disponibilize para eles brinquedos que possam ser montados e desmontados, como blocos de madeira. Materiais recicláveis também são ótimos para estimular a criatividade das crianças.

    Permita que eles se sentem no chão, sobre um tapete, e explorem o espaço livremente.

    3. Use o método da Aprendizagem Baseada em Projetos

    Loris Malaguzzi defendia a combinação dos ateliês aos projetos , por ser uma metodologia que dava mais autonomia para os estudantes. Estes têm a possibilidade de explorar e formular hipóteses para alcançar um determinado objetivo.

    Na Educação Infantil, é possível trabalhar com elementos da natureza, lançando perguntas simples sobre animais ou plantas. O professor deve ouvir atentamente as respostas de cada um dos estudantes e estimular o debate.


    💡Quer saber mais sobre a abordagem Reggio Emilia? Confira as fontes consultadas e indicações de leitura do Blog do EAD :

    • BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
    • CADWELL, Louise; GANDINI, Lella; HILL, Lynn; SCHWALL, Charles. O papel do ateliê na Educação Infantil: a inspiração de Reggio Emilia. Trad. Clarice de Campos Bourscheid e Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Penso, 2019.
    • CENTRO DE REFERÊNCIAS EM EDUCAÇÃO INTEGRAL. Reggio Emilia: escolas feitas por professores, alunos e familiares. São Paulo, Centro de Referencias em Educação Integral, 25 jun. 2014. Disponível em < https://educacaointegral.org.br/experiencias/reggio-emilia-escolas-feitas-por-professores-alunos-familiares/ >. Acesso em 31 ago. 2022.
    • CORRÊA, Vanisse; RAMOS, Celia Maria; YAMANOUCHI, Cintia. A abordagem Reggio Emilia na Educação Infantil. Coluna Planetário, Revista Contemporartes, Santo André, 19 mai. 2020. Disponível em < https://revistacontemporartes.com.br/2020/05/19/a-abordagem-reggio-emilia-na-educacao-infantil/ >. Acesso em 31 ago. 2022.
    • GIUDICI, Claudia. Reggio Emilia: 5 perguntas para os criadores de uma das metodologias de ensino mais famosas do mundo. Entrevista concedida para Fundação Telefônica Vivo. São Paulo, Fundação Telefônica Vivo, 19 abr. 2017. Disponível em < https://fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/reggio-emilia-pedagogia >. Acesso em 31 ago. 2022.
    • EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George. As cem linguagens da criança, volume 1: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância . Trad. Dayse Batista. Porto Alegre: Penso, 2015.
    • EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George. As cem linguagens da criança, volume 2: a experiência de Reggio Emilia em transformação . Trad. Marcelo de Abreu Almeida. Porto Alegre: Penso, 2015.
    • MIGLIANI, Audrey. A importância do ambiente na abordagem Reggio Emilia . ArchDaily, São Paulo, 25 jul. 2020. Disponível em < https://www.archdaily.com.br/br/943136/a-importancia-do-ambiente-na-abordagem-reggio-emilia >. Acesso em 31 ago. 2022.
    • REGGIO CHILDREN. As cem linguagens em mini-histórias contadas por professores e crianças de Reggio Emilia . Trad. Guilherme Adami. Porto Alegre: Penso, 2020.
    • REGGIO CHILDREN. Reggio Emilia Approach . Reggio Emilia, Reggio Children, mar. 2020. Disponível em < https://www.reggiochildren.it/en/reggio-emilia-approach >. Acesso em 31 ago. 2022.
    • UNIVESP. As Escolas de Educação Infantil de Reggio Emilia, Itália . São Paulo: Univesp, 2013. 1 vídeo (27 min.). Disponível em < https://youtu.be/4j8mtA_iDss >. Acesso em 31 ago. 2022.

    Por Olívia Baldissera

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